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Modern: Keep calm & Draw on



Com o recente anuncio da actualização das cartas banidas em Modern, uma vaga de reações espalha-se por toda a internet. Desde revolta e descontentamento, até à frustração, ou consentimento e entendimento por detrás da decisão. É ainda muito cedo para tirar alguma conclusão, mas há efeitos a longo prazo previsíveis.

Antes de mais quero realçar que esta é uma opinião pessoal, e que não reflecte nem os outros membros que colaboram para a realização de artigos, nem com a loja. É estritamente minha.

Então porquê? Aaron Forsythe num tweet revelou que o Pro Tour foi o factor decisivo no veredicto em banir Splinter Twin. Isto significa que a exposição de Modern implica uma rotação forçada pela WotC, de forma a diversificar o formato, tornando mais interessante numa perspectiva de observadores, ao invés de, suponho eu, ter um top 8 com um número prevísivel de 2 ou 3 variantes de Twin. É discutível os benefícios e malefícios; por um lado não havendo Twin incentiva e abre espaço para novas brews ou estratégias que estariam vulneráveis ao combo, por outro, há a perda de um pilar da qual haviam ramificações. Isto significa mudanças significativas no metagame.


O problema.
Modern foi fundado com critérios vagos e indefinidos no que toca ao que pode ou não pode ser permitido, no entanto temos indicações que ajudam a delinear o formato:

We used two criteria to guide us in choosing what cards to ban. First, we have a rule of thumb about Legacy that we don't like consistent turn-two combination decks, but that turn-three combination decks are okay. We modified that rule for Modern by adding a turn to each side: we are going to allow turn-four combination decks, but not decks that consistently win the game on turn three.
Fonte

Regra geral, um combo turno quatro é aceitável.

Como se trata de um formato "novo", há ainda estratégias e combos por explorar, eventualmente com o lançamento de novas cartas pode exarcebar esta dinâmica, que é (um bocado preocupante) confirmada pelo artigo de Sam Stoddard; People ask me, sometimes, how much of our playtesting do we spend testing Modern. The answer is…well, none; at least not directly.

As cartas são desenhadas e testadas em Standard, o  que cria um impacto colateral em Modern que não é medido. Isto pode propiciar períodos menos saudáveis (Treasure Cruise, Deathrite Shaman) em que ficamos à mercê da dominação por estas cartas até 1) Decidirem que é abusivo e deve levar com um ban de emergência ou 2) Esperam que o pó assente até ao próximo lançamento de uma edição para decidirem se a carta realmente é demasiado degenerada.
 
E Legacy? Causam igualmente impacto, mas a diferença é que há uma variedade de respostas eficazes que permite resistir (ainda que no caso de Treasure Cruise e Dig Through Time levaram com uma machadada); Force of Will, Daze, Vindicate, Council's Judgment, ...

Vai vendo cartas desbanidas, e maioritariamente só as que permitem estratégias combo mais rápidas ou resilientes é que permaneceram banidas. O facto de não fazer parte de um grande torneio (PT) é o outro factor dominante para o qual não há grandes variações no metagame, é um formato definido e resolvido pelos jogadores e largamente ignorado pela Wizards of the Coast (com a benção dos jogadores, Patrick Chapin um deles).

As I said, many of you have called for a non-rotating format that doesn't have the card availability problems of Legacy. We propose Modern as that format.
Fonte

No fundo esta é a solução para contornar a questão da lista de cartas reservadas, Modern é o penso rápido que soluciona o facto de Legacy e Vintage estarem condenados pelo facto de uma parte das cartas não serem reabastecidas no mercado. Dado o crescimento de Modern, era inevítavel o preço do formato subir, Modern Masters para todos efeitos serviu para baixar o preço de bastantes cartas, ou estabilizar, as que ficaram exluídas (Serum Visions) é que sofreram. Standard também é incapaz de providenciar com reprints de forma regular, uma vez que a prioridade é a estabilidade do formato.
Isto pode eclodir eventualmente na incapacidade de responder à necessidade de reeditar várias cartas, subindo o preço a níveis absurdos (ou de Legacy).

Mas o que é que isto nos diz sobre o formato?



E agora?

Com Birthing Pod e Splinter Twin banidos cria-se um antecedente perigoso: qualquer Tier 1 que restrinja o formato corre o risco de ser banido. Na realidade não é assim tão linear, Splinter Twin e Birthing Pod são dois casos que se apresentam como os candidatos perfeitos: são peças combo que pela versatibilidade e poder limitavam a diversidade.
Scapeshift, ainda que possa incluir Remand, Snapcaster Mage e Lightning Bolt, têm uma estratégia definida; ramp. A estrutura base do baralho não se mistura, é dedicada à estratégia de ganhar com Valakut the molten Pinnacle, ainda que possa perfeitamente baixar um Primeval Titan. Apesar de poder efectuar um estilo de jogo completamente diferente no segundo jogo, permanece a base do combo que identifica o baralho.

Ad Nauseam é um all in deck, com a maior redundância possível para combar ao turno 4, não têm um plano secundário e por isso também têm uma identidade infléxivel.
GriselShoal é também um all in, não possui tanta redundância, e por isso é menos consistente, e passa por vários pré-requisitos que o torna mais susceptível a interação do adversário, consegue Turno 3 kill? Sim, mas é mais fácil a disrupção do que contra um Amulet Bloom; não tendo cemitério passa ao plano b), através de Splice (Desperate Ritual / Through the Breach / Nourishing Shoal ) , o próprio combo kill está resiliente na activação de duas habilidades separadas (Griselbrand / Borborygmos Enraged) paradas por uma Pithing Needle ou Suppression Field. Entre Path to Exile,Vapor Snag e Relic of Progenitus há bastantes formas de interagir.

O que era Splinter Twin? Um plano midrange, ou combo, ou control ao qual se adicionavam as melhores cartas azuis e vermelhas com um toque de uma 3ª cor para melhor lidar com o metagame. A força do combo mais a flexibilidade do baralho tornou-o no pilar de modern. Não havia necessariamente nenhuma boa justificação para ser banido para além dos bons resultados que demonstrou ao longo dos anos.

Birthing Pod também ocupou um lugar semelhante, um toolkit enorme, onde se substitui as criaturas equivalentes em custo de mana e que melhor interajam com o metagame. Incluindo uma free combo kill, tal como Twin.

O que isto nos indica, é que um baralho que se dedique a encontrar terrenos, e jogar criaturas ou planeswalkers grandes (Tron), ou um baralho que faça ramp até 8 terrenos para fazer cast de Scapeshift com um Cryptic Command em mão, ou ainda se o objectivo é matar com uma criatura de infect ao turno 2/3 também está dentro do pode ser aceite em Modern. Porque estes baralhos apresentam uma estratégia linear, não são flexíveis o suficiente para se enquadrar em várias categorias. Precisamente o que Twin conseguia.

Não me parece que nenhum destes decks sejam afectados futuramente, salvo a grande excepção de se tornarem dominantes por alguma anomalia em percentagens acima dos 20%. E mesmo nesse caso, penso que editarem uma resposta específica será mais conservador. Ou pensem comigo, não seria demasiada coincidência Crumble to Dust ter sido editado agora?


O futuro!

Primeiro uma pequena sugestão, que se bem me recordo já tinha discutido o mesmo na altura em que Birthing Pod foi banido; criar uma lista de cartas marcadas.

A ideia é simples, cartas verdes são todas as que se encontram legais, vermelhas são as banidas, e amarelas são as que se encontram em situações incertas ou que possívelmente poderão vir a dizer adeus. Qual é o maior benefício? Proteger os jogadores de um ponto de vista financeiro. Jogar Magic não é grátis, vem com um custo. Um formato não rotativo, teoricamente tem a vantagem de ser um investimento que a longo prazo se encontra relativamente seguro. E este é aliás, um factor pelo qual Legacy está a milhas de Modern, entre possuir um Miracles ou um Show and Tell ou MUD ou Shardless BUG ou merfolk ou Death andTaxes, ou enfim, praticamente qualquer baralho retém o valor (à excepção de uma nova carta ser editada e que venha a substituir uma já existente), eu estou de consciência tranquila se quiser parar de jogar, daqui a 5 anos posso voltar com o mesmo baralho e continuar a ser competitivo e que a probabilidade de ser banido é, bem, praticamente 0%.

O mesmo não se pode dizer de Modern, constroem um baralho que apresenta resultados consistentes? Talvez sofra o mesmo destino que Twin. Esta incerteza num investimento tão laboroso não pode ser ignorada pela Wizards, que só prejudica o formato, supostamente, não rotativo.
Ao marcar as cartas permite aos jogadores arriscarem de livre consciência manterem o baralho, ou vender com algum valor (ainda que menor) para não ficarem "queimados".

Em segundo, esta actualização aborreceu-me, não pelas cartas banidas até porque prefiro um formato com um baralho como Amulet Bloom e que seja saudável, na minha perspectiva, não é o baralho que é demasiado consistente no turno 3, não é o combo que é difícil de interagir. É simplesmente porque Modern não apresenta quaisqueres respostas eficazes em negar certas estratégias (neste caso ramp). Imaginemos que Legacy Dredge, Ad Nauseam e  Sneak and Show são banidos. Eu não consigo imaginar, são combos que identificam perfeitamente o formato. Em vez de banir; Rest in Peace, Containment Priest, Ethersworn Canonist (reparem que nenhuma destas respostas universais é azul).

Neste sentido poderiam usar produtos suplementais (Commander) para editar cartas legais em Modern (tal como já acontece em legacy).

Mais aborrecido do que Splinter Twin e Summer Bloom banidos, é o facto de nenhuma carta ter sido desbanida. Os candidatos? Ancestral Vision, Jace, the Mind Sculptor, Sword of the Meek e Second Sunrise....estou só a brincar em relação ao último! Sword of the Meek é para mim o candidato perfeito; joga em baralhos azuis não Splinter Twin (coisa que agora já não interessa) e lida com a vertente aggro/burn, que representa a maioria em Modern.


Modern pós-Twin

Que consequências têm o desaparecimento de Twin?

Primeiro que tudo o turno três para estratégias proactivas (tapped out) é muito mais seguro, não precisam de segurar o Path to Exile, Dismember ou Abrupt Decay e atrasar o vosso plano de jogo. Turno três Fulminator Mage, Geist of Saint Traft, Liliana of the Veil, Courser of Kruphix, ou qualquer outra 3-drop serão mais comuns sem receio do combo.

Isto significa que os baralhos podem "alargar", e passamos de uma fase em que há menos spot removal para mais iras. Damnation e Supreme Verdict possivelmente serão também mais presentes, guardando Dismember e Path to Exile para o plano de sideboard. 

Como combo à base de criaturas perdeu o maior representante, os baralhos combo não baseados em criaturas ganham mais relevo; UR Storm, Ad Nauseam, Scapeshift. Se assim for,e no caso de control poder jogar com iras ou cartas que façam trocas de 2-por-1, poderão focar mais nos counterspells melhorando o matchup contra Combo. 
Baralhos com acesso a azul serão capazes de lidar melhor em geral com estes.

Apesar de Twin desaparecer, não significa que Snapcaster Mage e Lightning Bolt o sigam. Na realidade Jeskai ou Grixis Midrange estão posicionados, não incontestavelmente como os melhores, mas com grandes possibilidades de vingar em Modern. O sucesso destes vai depender totalmente do sentido em que o metagame for, mas garantidamente apresenta-se um período em que baralhos à base de Ancient Stirrings vão predominar o formato. Tron é o candidato perfeito, Affinity que é verdadeiramente O pilar do formato não vai a lado nenhum, Burn também está para ficar, se assim for Bogles também volta (este baralho é o predador natural de Burn e Delver).

No caso de haver uma migração de jogadores de Twin para Delver, é bem possível que Eldrazi Control faça uma entrada espetacular e tome o formato de rompante.

A quantidade de Remand no formato irá ditar o regresso de Living End, que perante um cenário menos dominado por UWx Control, rouba vitórias de forma indescriminada.

É um cenário de incerteza, o que prejudica imenso todos nós. Um formato deve ser excitante e que promova a maior diversidade. Sempre considerei criações de baralhos como uma forma de expressão (intelectual), é um dos meus factores motivacionais, e neste aspecto sempre preferi Legacy por essa razão. Desta situação só há uma conclusão inicial; os jogadores, sejam a favor ou contra este desenrolar, é que foram prejudicados. 

Resta esperar o melhor e que no futuro seja lidado de uma melhor forma, ou com mais transparência da parte da WotC.

Obrigado pela leitura,
Keep calm and carry on.
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