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Pensamento Limitado 1

Olá gentes mágicas, sejam bem-vindos à primeira edição do Pensamento Limitado: um espaço dedicado a todas as coisas limitadas. Não, não vamos falar de "brainfarts", ou de situações que merecem um grande "facepalm", mas sim das diversas variantes de limitado, com especial foco para Selado e Draft.

Como vocês sabem, o último fim-de-semana de Setembro foi fim-de-semana de prerelease e este é um documentário da minha jornada competitiva. Ao preparar-me para o que se antevinha, fui lendo alguns artigos da comunidade americana, com especial foco para os artigos do channelfireball.com e dos grandes pro-players que habitualmente escrevem a sua coluna semanal, tais como o LSV, o PV, entre outros.

Alguma das ideias que fui retirando ao ler tais coisas foram: a velocidade do formato parece ser mais lenta do que o habitual e jogar com 18 terrenos parece ser um boa opção, isto tudo derivado do facto do formato estar populado por grandes Eldrazis e cartas com awaken, cujos os custos de mana fazem subir a curva mais do que aquilo que habitualmente é um deck de selado que termina nos 7 ou 8 manas.

Quanto às temáticas e mecânicas de BFZ:

  • "Converge" é claramente aquela que é mais difícil de construir e acertar porque envolve jogar com pelo menos 3 cores, normalmente UGX com o suporte suficiente na forma de duals/Evolving Wilds e aceleração verde/Antecipate ou card draw. Só vale a pena forçar se tivermos cerca de 5 a 8 maneiras de acertar o mana;
  • "Devoid Matters" é uma daquelas coisas que não tem grandes benefícios em forçar uma construção em torno, dado que os pequenos benefícios se aparecerem são bons, mas se não aparecerem também não estamos a perder muita coisa. A única carta que me chama a atenção neste tipo de deck é o Nettle Drone, 2 de dano por turno mais um blocker com 3 de poder dá para ganhar muitas corridas. As cores predominantes são o RB, com algum azul e verde a fazer das suas também;
  • "Ingest & Process" é uma temática maioritariamente de UB, os Processors sem os Ingesters são apenas bons na melhor das hipóteses, pelo que muita das vezes corremos o risco de acabar com um deck medíocre só para tirar partido das vastas vantagens incrementais que este arquétipo nos tem para oferecer, isto para não falar que são poucos os Ingesters que são verdadeiramente bons, sendo o Benthic Infiltrator o único que agora de cabeça me vem à memória: claramente a maior "armadilha" deste formato;
  • "Allies Rally" parece-me, de todas as temáticas que existem, ser a mais intuitiva e fácil de construir dada a enormidade de aliados que existem em todas as cores, sendo que a base está no branco, estendendo-se depois ao preto, vermelho ou verde ... e até azul. Diria que WR Aliados seria a melhor combinação, mas WB tem os spells mais impactantes na forma da Drana e do March from the Tomb. A dificuldade está em ter suporte suficiente para acompanhar as diversas bombas que existem para jogar de aliados;
  • "Landfall Aggro" não traz nada de novo, é uma temática conhecida já do antigo Zendikar, sendo que desta vez creio que é  menos agressiva, ou seja, as criaturas com landfall vêm em custos de mana superiores, e está mais virada para RG do que para RW como antigamente. Tirando isso, é bastante straightforward de se fazer e mais fácil de montar que Aliados.


Resta-me falar nas cores de mana isoladas. À partida e, antes de jogar este prerelease, o meu ranking seria algo do género:

  1. Verde: É uma cena pessoal, tenho tendência a gostar de verde e, neste formato pareceu-me estar numa posição favorecida. Melhores comuns/incomuns: Brood Monitor, Eyeless Watcher, Tajuru WarcallerMurasa Ranger e Snapping Gnarlid.
  2. Branco: É a cor que tem sempre de tudo um pouco, e coisa boa: evasão, removal, agressividade, etc. Melhores comuns/incomuns: Stasis Snare, Sheer Drop, Retreat to Emeria, Encircling Fissure e Tandem Tactics;
  3. Vermelho: É sempre aquela cor que no que faz, faz-lo bem, mas que em limitado carece de "late game power". Melhores comuns/incomuns: Nettle Drone, Ondu Champion, Rolling Thunder, Vile Aggregate e Turn Against;
  4. Azul: A cor que costuma ser do suporte, em BFZ não deixa de ser exceção. Melhores comuns/incomuns: Benthic Infiltrator, Clutch of Currents, Eldrazi Skyspawner, Ruination Guide e Windrider Patrol;
  5. Preto: Peca por não ter mais removal eficiente e criaturas boas com evasão. Melhores comuns/incomuns: Grip of Desolation, Hagra Sharpshooter, Malakir Familiar, Silent Skimmer e Rising Miasma.

Antes de começarmos, ainda um pequeno reparo: para este prerelease a WotC decidiu mudar a estrutura das boxes, mantendo a aleatoriedade da rara promo e a permissão de podermos jogar com ela no nosso deck, e retirando aqueles seeded boosters que só nos forçavam em fazer coisas que não queríamos, acrescentando ainda um booster, o que a meu ver está perfeito! Não mudaria muito mais.

Estando contextualizdos, vamos então passar à ação. Qual o segredo para construir um deck de limitado? Eu diria que não existe um método infalível, mas vou partilhar convosco aquilo que faço: separo a minha mesa por colunas de cada cor e divido as linhas por prioridade: no topo meto as raras de cada cor, logo a seguir aquelas cartas que vão fazer parte do meu deck quase sempre se jogar da cor em questão, depois os fillers e, por último as cartas medíocres ou de sideboard que nunca vão entrar.

Tendo isto em conta, vamos analisar a raras que abri: Saltam logo à vista Planar Outburst, Sire of Stagnation e March from the Tomb. Depois numa classe mais abaixo Woodland Wanderer, Brutal Expulsion e Dust Stalker. Por último, raras injogáveis foram 2x Prism Array, um deles promo: I know right? Lucky me ...

Como qualquer ser humano, a tendência que tive foi logo pegar na mítica e tentar construir um deck à volta dela. Ficou qualquer coisa como isto:


O deck tinhas boas criaturas para tirar partido da mecânica do "Ingest & Digest" na forma Ulamog's Nullifier e Benthic Infiltrator e fazia bom uso de Titan's Presence, mas eu sentia que faltava qualquer coisa, nem que seja remoção de qualidade ou melhor top-end. Olhei mais uma vez para as minhas raras e reparei que duas delas ja combinavam ou preto ou azul com vermelho. Então percorri o vermelho rapidamente e havia uma ou outra carta que realmente me atraía, pelo que fiz umas trocas e acabei por acrescentar Kozilek's Sentinel e Forerunner of Slaughter às raras acima mencionadas, acabando o deck por ficar algo do género:


Desta maneira o deck já me agradava mais, ainda assim o meu receio foi sempre se valeria a pena dar-me a tanto trabalho de splashar vermelho para jogar com uma combinação de cores que eu mesmo acima referi como ligeiramente má. Avaliar este deck foi muito difícil para mim, e a falta de confiança levou-me a reconsiderar.
Então voltei a dar uma vista de olhos pelas outras pilhas. Eu queria mesmo era jogar com o verde, mas não havia profundidade suficiente na cor para poder considerar como cor principal. Então olhei com especial atenção para o branco. Reparei numa coisa bastante interessante: tinha alguns aliados com a temática do "lifegain", que me tinha passado completamente ao lado quando fiz a análise às temáticas do set, e que juntos com os pretos que já tinha davam a entender que podia haver alguma sinergia engraçada. Então experimentei montar um deck WB Allies-ish:



A base do deck estava nas sinergias fornecidas pelo lifegain provido por Drana's Emissary, Zulaport Cutthroat, Kalastria Healer e Stone Haven Medic com o proveito desse lifegain tirado por Kalastria Nightwatch, Bloodbond Vampire e até Malakir Familiar. O topo da curva fazia uso de Eldrazis semi-jogáveis com as cartas de controlo de presença de jogo na forma de Planar Outburst e March from the Tomb. O deck não parecia muito mau, pelos menos transbordava de boa remoção e, tive inclusivé de cortar algumas cartas com as quais eu queria jogar, mas não havia espaço suficiente, pelo que me sentia mais confiante neste deck apesar de acreditar que outro tinha mais potencial para fazer coisas degeneradas.

Estive mesmo, mesmo até à última a debater-me por dentro qual seria a escolha: acabei por optar pelo deck WB e lá fui eu à minha vidinha jogar, pensando mais negativamente do que positivamente nas minhas escolhas. Mais uma vez: não estava confiante, acreditava que podia ganhar alguns jogos, mas claramente não tinha um deck para fazer um 5-0 e ganhar o prerelease.


1 Zulaport Cutthroat
1 Kalastria Healer
1 Kalastria Nightwatch
1 Stone Haven Medic
1 Malakir Familiar
1 Drana's Emissary
1 Sludge Crawler
2 Dominator Drone
1 Bloodbond Vampire
2 Ghostly Sentinel
1 Bane of Bala Ged
1 Eldrazi Devastator
1 Planar Outburs
1 Roil's Retribution
1 March from the Tomb
1 Smite the Monstrous
1 Gideon's Reproach
1 Sheer Drop
1 Titan's Presence
1 Hedron Archive
7 Plains
10 Swamp
1 Sandstone Bridge
Sideboard
1 Mire's Malice
2 Kor Castigator
1 Ghostly Sentinel
1 Mind Raker
1 Demon's Grasp
1 Dutiful Return
1 Felidar's Cub

Ronda 1 (vs Fernando Moreira): Na primeira ronda encontrei pela frente o Fernando.Consegui ganhar 2-0 sem obter muita resistência pela frente contra o deck dele de GR ou BR: ele trocou de deck de um jogo para o outro.

Score: 1-0; Parciais: 2-0

Ronda 2 (vs Tiago Seara): O Tiago tinha provavelmente a versão melhorada do meu deck, com Drana, Liberator of Malakir promo e Gideon, Ally of Zendikar. Infelizmente para ele os nossos jogos foram pouco interessantes: Jogo 1 ele parou um bocado no preto e foi suficiente para eu montar uma ofensiva para lhe ganhar. No jogo 2, tocou-me a mim ficar parado nos 3 manas e ele ganhou com Gideon em campo. No jogo 3, mais do mesmo: ele ficou screw de branco e eu ganhei sem ele puder fazer os spells de 2 manas brancos. É Magic: sinceramente eu não gosto nada quando isto acontece. É muito mau quando não fazemos jogos a sério, e o que dá prazer neste jogo é podermos jogar os nossos spells e não ficar a olhar para o oponente enquanto ele lentamente nos mata com uma facada cada vez mais profunda. Mas ainda bem que a nova regra do mulligan foi implementada, senão seria ainda pior.

Score: 2-0; Parciais: 4-1

Ronda 3 (vs João Moreira): O amor do João por todas as coisas azuis é vastamente documentado, por isso não foi surpresa nenhuma que ele tenha construído um deck RUG, com splash vermelho para dupla Akoum Firebird, uma delas promo. No primeiro jogo, mais uma vez o meu adversário ficou color screwed de verde, pelo que pude ganhar antes dele comprar o terreno certo. No segundo jogo a coisa foi diferente, tivemos uma corrida bastante interessante, dado que apesar das criaturas dele serem melhores, o meu lifegain conseguiu aguentar com o forte até que chegamos a uma board state em que ele está a 5 com dois blockers e eu tenho 4 criaturas com um Kalastria Nightwatch que acaba de ganhar evasão dado o lifegain provido pela entrada de um aliado: se eu atacasse com tudo provavelmente ia ganhar, ou pelo menos forçava um removal vermelho, só que eu estava a 6 pelo que se arriscasse muito podia correr mal: para além do mais ele tinha 5 manas desviradas pelo que podia ter Turn Against ou Stonefury que eu tinha visto no primeiro jogo, pelo que só ataquei com o vampiro. Ele até tinha remoção, mas comprou mais presença na board e eu falhei em atingir mais aliados, pelo que 2 turnos mais tarde acabei por provar do meu próprio veneno. No terceiro jogo, eu fiz keep a uma mão com o Hedron Archive mais o Bane of Bala Ged, pois sabia que se atingisse os 4 manas acelerava para turno 5 Eldrazi, o que podia ser coisa grossa. Só que tive uns turnos parado no terceiro mana e a debitar bichinhos e algum removal, consegui estancar a hemorragia o suficiente para quando eu pudesse jogar a quarta terra ter tempo de fazer tudo o queria, para além do mais ele ao ver que tava parado acelerou na agressão e deu-se mal com isso quando num quadruple block eu joguei um Gideon's Reproach para dar cabo da sua equipa inteira e, a partir daí, tomar conta do jogo.

Score: 3-0; Parciais: 6-2

Ronda 4 (vs Ricardo Dias): O Ricardo é daquele tipo de jogadores que ninguém gosta muito de ter pela frente, não só porque é um jogador que considero bom, mas também por ser difícil de ler o que lhe vai na alma: tá quase sempre muito calmo, impávido e sereno, só quebra o personagem quando a coisa pede uma ponderação difícil. Pelo que tinha percebido das rondas anteriores ele estava a jogar com um deck RB aggro com o Ob Nixilis Reignited como motivo de destaque. No primeiro jogo tivemos um grind trocando golpes até que ele assentou na mesa Barrage Tyrant que ameaçava acabar comigo e eu a 5 de vida. É aí que me deparo com uma decisão que deveria ser fácil, mas não foi: atingi o 7º terreno que me permitia fazer cast ao Bane of Bala Ged que tinha na mão e foi isso que fiz, mesmo sabendo que a outra carta que tinha na mão Smite the Monstruous lidava com a ameaça dele, isto tudo para realizar que o meu Eldrazi em esteróides ia trocar com o bicho dele: isto podia ter-me custado o jogo. Mas não custou, lá trocamos os bichos, eu comprei melhor que ele e quando o Ob Nixilis Reignited veio já era tarde demais. Ao ver que o deck dele estava cheio de criaturas vermelhas agressivas e com landfall a minha reação imediata foi sideboardar para baixar a curva: tirei umas 4 drops e 5 drops para poder acomodar mais 3-drops e 2-drops. No segundo jogo voltámos ao grind, até que a board dele tem Ondu Champion, Vestige of Emrakul e um Chasm Guide, contra 3 bichos x/1 meus e eu com mana desvirada pronto a matar qualquer coisa com Titan's Presence + Eldrazi Devastator. Ora ele baixa um Shatterskull Recruit e eu sem me aperceber das triggers dos Aliados deixo resolver. Conclusão: levei com dano desnecessário, acabei por matar o mesmo bicho que podia ter matado sem dar aso a triggers de atropelar e esse dano acabou por ser fundamental para não me permitir estabilizar. No terceiro jogo comprei demasiados terrenos e quando comprei ação, comprei a parte má do deck, fui forçado a fazer um Planar Outburst sem awaken para limpar a mesa dele e fazer um 3-por-1, ainda joguei March from the Tomb para reanimar dois aliados decentes no turno seguinte, mas o Ob Nixilis Reignited veio primeiro e tomou conta da situação rapidamente, fazendo com que eu perdesse esse jogo. Damn ...

Score: 3-1; Parciais: 7-4
Shatterskull Recrui

Ronda Final (vs João Gonçalves): O João é uma daquelas pessoas que quando olhas para o passado e vês a maneira como ele jogava e olhas agora para o presente reparas numa evolução tremenda. Devo confessar que me revejo um pouco nele, porque quando comecei também tinha a "mania" de jogar com decks de 3 cores porque havia tanta xixa que eu gostava que não conseguia fazer o corte e punha-me a jogar com coisas engraçadas, simplesmente porque era engraçado de as ver em ação. Isto para dizer que, na última ronda levei com o deck dele de BRG (ou JUND) Devoid. Sem saber o que contar, apanhei pela frente no primeiro jogo aquilo que ele viria a dizer como "o melhor arranque do meu deck": turno 2 Forerunner of Slaughter, turno 3 Culling Drone, ímpeto, ingest, turno 4 Wasteland Strangler, 2-por1, tive a opção de matar um bicho dele com removal, escolhi o último bicho que entrou em jogo a pensar que não iria levar com mais devoid, mas eles continuaram a vir e o meu erro foi demasiado grande para me poder recompor. No jogo 2, a agressão acalmou, mas mal ele baixou From Beyond e a partir daí eu já sabia que tinha o jogo perdido. Ele impediu a minha agressão até que baixou uns quantos Eldrazis gigantes e ganhou o jogo: 0-2 fácil, nem sequer cheirei. Como é obvio depois na brincadeira fui eu que ganhei, mas perder um jogo em 30 minutos diz muito da fraqueza do meu deck.

Score final: 3-2; Parciais: 7-6

Rating do Deck: Satisfaz Mais. Esperava ser atropelado, não foi isso que aconteceu, é verdade que tive os meus momentos de muita sorte, mas o azar também passou à porta (diga-se de passagem que acabei em 9º e os prémios só iam até ao 8º: Ouch!). Não me arrependo da minha escolha de deck, estou ciente que joguei com um deck que, reflectindo bem no assunto, era pior que o outro que tinha montado, só que eu sem bons spells de remoção não me sinto confortável a jogar limitado e azul e preto não forneciam toda essa segurança que eu tanto gosto. Eu gostava era do deck com vermelho, mas sem fixing não arrisco.

Bem, espero que tenham acompanhado o artigo com algum interesse, se quiserem saber mais não hesitem em escrever nos comentários: tou aberto a dúvidas, opiniões e sugestões. Vejo-vos na próxima edição e até lá não se esqueçam de não se porem a magicar muito.
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